Como as fintechs vêm aprimorando o sistema financeiro brasileiro?

Por:
Ana Luiza e Gustavo Oliveira, Analistas de Crédito

As fintechs, ou empresas de tecnologia financeira, desempenham um papel fundamental na transformação do cenário financeiro global. Ao desafiar as estruturas tradicionais do setor, essas startups têm sido agentes de mudança ao promover um ecossistema financeiro mais competitivo e centrado nas necessidades dos clientes. Neste texto será abordado como as fintechs estão contribuindo para redefinir o panorama financeiro, reduzindo custos bancários, ampliando o acesso à serviços financeiros e inovando através do uso tecnologia para a construção de um sistema financeiro cada vez mais integrado.

Segundo estudo conduzido pela Zetta, associação de empresas de tecnologia que oferecem serviços financeiros digitais, desde a aprovação da Lei 12.865 de 2013, que propiciou a entrada de fintechs no setor bancário brasileiro, houve um aumento de competitividade no setor que pode ser notado diretamente no bolso dos seus clientes do mercado financeiro. Tendo em vista um cenário em que a renda de tarifas bancárias está em queda, e, em contrapartida, conforme projeção, um cenário sem fintechs o valor desta renda seria R$ 7,9 bilhões maior, conclui-se que o consumidor médio passou a pagar menos, ou seja, gerou-se um grande ganho econômico.

Fora essa economia, no passado, a oferta de serviços financeiros era exclusivamente realizada por instituições financeiras tradicionais, através de agências físicas, com diversas burocracias para a abertura de contas, acesso ao primeiro cartão de crédito, empréstimos, etc.. Tal estrutura favorecia um pequeno número de players que conseguiam operar com essas condições que exigiam altos investimentos na largada para começar a prestar qualquer tipo de serviço financeiro. Assim, por meio de produtos 100% digitais, as fintechs possibilitaram a entrada de novas soluções no mercado que permitiram avanços significativos no aumento da taxa de bancarizados, segundo dados do Banco Central, antes do início da quarentena, em 2019, o Brasil tinha cerca de 165,6 milhões de bancarizados, e, atualmente, já são 188,3 milhões. As fintechs, sobretudo, por meio de contas digitais, foram as grandes responsáveis por esse salto, incluindo 22,7 milhões de pessoas no sistema financeiro.

Para viabilizar serviços 100% digitais houve um grande salto em termos de avanços tecnológicos que proporcionaram o funcionamento adequado de uma instituição financeira de forma online. Uma vez que esse processo foi iniciado ele não deve parar, na medida em que um grande número de fintechs foram fundadas para resolver os mais diferentes gargalos em serviços financeiros, hoje a competitividade do setor é extremamente alta, o que torna essencial o investimento contínuo em desenvolvimento de novas tecnologias para seguir aprimorando as propostas de valor das fintechs, ganhando assim vantagens competitivas na disputa pelo mercado dos melhores clientes. Diante disso, o uso de recursos de Inteligência Artificial (IA) aparece como um dos principais focos para ganhar destaque no mercado, atraindo clientes assim como investidores. Este recurso pode ser utilizado desde a otimização dos processos internos da empresa, até a detecção de fraudes e vazamento de informações, um dos maiores pontos de dor e preocupação de startups do setor financeiro segundo a McKinsey. Ainda de acordo com a consultoria, o uso da inteligência artificial pode gerar até US$13 trilhões no mundo até 2030,  agregando valor financeiro para as empresas e criando oportunidades de mercado. Por exemplo, no contexto de fintechs de crédito, a tecnologia pode ser utilizada para medir o risco de cada cliente, buscando diminuir a inadimplência da carteira pelo aumento da precisão da análise de crédito, possibilitando a oferta de créditos cada vez mais baratos para bons pagadores.

Olhando para o cenário das fintechs hoje, apesar de ser muito promissor, ainda existem desafios significativos, como regulamentações complexas, competição acirrada e desproporcional, além da necessidade de conquistar a confiança do público. Então, para avançar, o setor precisa continuar trabalhando em estreita colaboração com reguladores para criar um ambiente regulatório mais claro e favorável à inovação. Dessa forma, os próximos passos para as fintechs no Brasil incluem o desenvolvimento de produtos cada vez mais personalizados, viabilizados através de novas tecnologias e que mantenham a busca por parcerias estratégicas que possam fortalecer sua presença no mercado. À medida que superam esses desafios, as fintechs têm o potencial de desempenhar um papel ainda mais significativo na construção de um sistema financeiro mais inclusivo e voltado ao desenvolvimento do país.

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