O potencial de crescimento de uma empresa não está relacionado apenas ao ineditismo de uma solução. Esse é o ponto de partida que justifica a existência de um negócio, além de ser elemento importante para atrair a atenção do mercado. Porém, para se destacar e sobreviver no concorrido mundo das startups, é preciso adotar um conjunto de habilidades gerenciais e estar pronto para que, a qualquer momento, os ventos possam se tornar menos favoráveis. Essa é a solidez que caracteriza as chamadas startups camelos.
Mas, por que camelos? A comparação existe porque eles são animais resilientes, uma vez que vivem em ambientes desérticos. Em contrapartida, os unicórnios, que caracterizam as startups avaliadas acima de US$ 1 bilhão, são raros e mágicos.
Traduzindo para a prática do mercado, enquanto no segundo grupo (o mais famoso) as empresas dependem de investimentos altos para crescer rapidamente, nas startups camelos a estratégia é avançar em um ritmo "calmo" com o capital investido inicialmente.
Para crescer com sustentabilidade, as startups camelos podem seguir quatro dicas essenciais:
Um dos principais aspectos desses negócios é a chamada previsibilidade de receita, promovendo estabilidade e projeção de crescimento. Isso pode ser alcançado por meio de estabelecimento de metas claras, estruturação de uma boa equipe de vendas, foco no perfil do cliente ideal e desenvolvimento de uma cadência de vendas que esteja alinhada com todos os pontos anteriores.
Desse modo, é fundamental que as etapas de prospecção e de conversão sejam feitas com base na segmentação desenhada; assim, as startups camelos conseguem trabalhar em condições melhores de previsibilidade de receita.
A jornada das startups camelos
Como explica Marco Haidar Michalaute em artigo publicado no Startupi, existem três pontos estratégicos para as startups camelos. O primeiro é saber quando acelerar — e a intensidade do movimento — para conciliar velocidade e crescimento de maneira sustentável. Essa decisão precisa considerar tanto a leitura do mercado e o posicionamento dos concorrentes quanto às capacidades internas de competitividade.
O segundo ponto passa pela necessidade de manter a alta qualidade dos processos mesmo nos períodos de crescimento. O terceiro é não abrir mão da qualidade do atendimento nos períodos de pós-atendimento ou pós-venda.
Startups camelos x startups unicórnios
Em meio à atual escassez de liquidez e ao alto custo do dinheiro, muitas empresas tiveram que fazer demissões em massa para enxugar operações. Nem os unicórnios escaparam da crise. Mesmo impulsionados por sucessivas rodadas de aportes milionários, eles também são cautelosos quando a prioridade é ter dinheiro em caixa para sobreviver.
As diferenças entre os dois grupos de startups se tornam mais nítidas quando são analisados os modelos de negócio.
Geralmente, unicórnios visam escalar a operação rapidamente com o capital externo investido e podem inclusive assumir a consequência de não lucrar no curto e médio prazos para poder viabilizar o crescimento acelerado. Já as startups camelos costumam partir de uma mentalidade mais racional, com foco no equilíbrio entre gastos e rentabilidade, para promover uma expansão mais lenta. No segundo caso, desde o início, cada passo da operação é calculado para aumentar a receita em linha com o crescimento da base de clientes.
Em entrevista à Câmara de Comércio Brasil-Canadá, Alex Lazarow, professor de Empreendedorismo e Investimentos de Impacto Social no Middlebury Institute of International Studies, destaca que as startups camelo “querem não só crescer e impactar as indústrias e países em que operam, mas fazer isso com sustentabilidade e resiliência desde o início”. Por isso, segundo ele, a avaliação do valor do negócio (valuation) não deve ser a prioridade, e sim promover um impacto significativo nos consumidores, criando um grande negócio.
Na visão de Marcos Anselmo, cofundador da Terracota Ventures, primeira empresa de venture capital da América Latina com foco nas construtechs e proptechs, o cenário é positivo para as startups camelos porque, além de terem o balanço financeiro favorável, elas representam uma espécie de porto seguro na atual seca de investimentos.
“O investidor não está interessado em startups que queimam o caixa. O foco é nas empresas orgânicas, sustentáveis, nas quais ele sabe que o dinheiro está sendo usado efetivamente para alavancar o negócio, e não para sustentá-lo. No geral, a situação deve favorecer negócios com empreendedores mais experientes, que comecem com capital próprio e busquem investimento somente em um momento mais maduro”, afirmou Anselmo em entrevista à Eqseed.