Em uma nação que geralmente evita interferência do governo, especialmente em contextos que afetam a "liberdade de expressão", é interessante que o CEO da OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT, tenha ido ao Senado dos EUA pedir regulamentação do mercado de inteligência artificial.
Durante seu discurso, Sam Altman defendeu que a intervenção regulatória do governo é necessária para reduzir os riscos decorrentes de modelos de IA cada vez mais capazes e surpreendentes em suas habilidades. Um dos principais pontos de atenção para essa regulamentação é a proximidade do pleito eleitoral nos EUA em 2024.
Para demonstrar os perigos dessa nova tecnologia tão à disposição assim sem regras que a dêem parâmetros, o senador Richard Blumenthal reproduziu uma gravação falsa que usava sua própria voz, criada por IA. Outros especialistas, como Christina Montgomery da IBM e Gary Marcus (psicólogo americano que pesquisa a interseção da psicologia cognitiva, neurociência e inteligência artificial), também testemunharam na audiência sobre a necessidade de regulamentação da IA. Os membros do Congresso continuarão realizando audiências sobre a IA, incluindo uma futura discussão sobre direitos autorais e patentes.
Isso se junta a uma discussão diversificada sobre a popularidade das ferramentas de IA, seus usos e aplicações, as substituições que elas trariam para a rotina comum dos cidadãos em todo o mundo e como isso transformaria o futuro da sociedade.
Embora o uso da IA para facilitar trabalhos ou demonstrar possibilidades de combinação de dados seja algo a ser celebrado, a falta de regras pode ser perigosa. Existem muitos tipos de aplicação ainda em teste que devem melhorar significativamente certas rotinas. Os compilados de "prompts" que facilitam esse tipo de rotina são fartamente oferecidos pela internet, como a que oferece 192 opções de "ordens" ao ChatGPT voltadas para áreas como Marketing, Vendas, TI, Recursos Humanos e Atendimento ao Cliente, prometendo (e muitas vezes cumprindo) a melhoria da produtividade.
Entretanto, há um assunto que tem sido discutido nos noticiários americanos: a mais recente greve dos roteiristas inscritos no Writers Guild of America (WGA), o sindicato dos roteiristas americanos.
O debate começou com uma discussão sobre a revisão dos contratos da categoria com os estúdios e produtoras de conteúdo, focando principalmente na remuneração que esses profissionais recebem. Mas o debate se aprofundou na consideração de limitações ao uso de IAs e tecnologias similares na produção de roteiros, adaptações, narrações e até movimentos.
Sim, além dos roteiristas, que se preocupam com a criatividade aplicada ao seu trabalho ser substituída por uma análise combinatória de fatores que apresentem um roteiro que interesse ao público - é público e notório o método da Netflix de seleção de roteiros, analisando os interesses do público e suas predileções (a série Stranger Things foi a que deu início a esta era), há também a preocupação de atores e locutores em verem a replicação de suas vozes e movimentos sem o seu consentimento, por terem sido "geradas por IA".
Vale ressaltar que nenhuma dessas referências, sejam elas para substituir o Google ou os roteiristas e atores, surgiram do nada. Elas precisam ser alimentadas na base de dados das IAs para, a partir daí, serem utilizadas na criação de novas opções. Setores como a medicina e a aviação civil têm aplicado inteligência artificial, mas ainda como auxílio, pois a decisão final ainda é predominantemente humana.
E como um dos cartazes dos piquetes dos grevistas afirma, "sabe o que o ChatGPT não tem? Traumas infantis". No contexto dos roteiros, séries e criatividade, os seres humanos inscritos no WGA acreditam que a criatividade genuína, assim como o poder de avaliação e decisão de médicos e pilotos, ainda é superior.