Depois de um ano e meio e mais de US$ 13 bilhões (sim, bilhões) investidos no desenvolvimento do seu ambiente de realidade virtual, Mark Zuckerberg e a Meta deixam de lado esse projeto para aderir à grande frente de avanço da tecnologia do último ano, a Inteligência Artificial (IA). Como qualquer interessado em tecnologia a essa altura já sabe, a aposta de Zuckerberg era tão profunda e devotada no ambiente virtual de interação (metaverso) que até o nome do conglomerado que controla Facebook, Instagram e WhatsApp foi alterado para Meta.
Agora, com o sucesso cada vez mais massivo de ferramentas de IA como o ChatGPT e o Midjourney (que ficou famoso por ter gerado uma foto do Papa Francisco com um casaco nada ortodoxo), a Meta decidiu que seu foco vai mudar. Com esse movimento, se junta a Microsoft (que sozinha, investiu US$ 10 bilhões na OpenAI - criadora do ChatGPT), Amazon, Google e outros, tentando manter seu protagonismo no setor de tecnologia e inovação.
Pegando este gancho, nossa ideia é falar hoje sobre projetos e tecnologias que ficaram pelo caminho (ou perderam protagonismo) mesmo depois de serem incensadas como grandes panacéias da indústria. O metaverso, claro, é nosso ponto de partida dessa conversa, já que o principal player do mercado puxou o freio de mão e mudou de rota abruptamente.
Quando o metaverso surgiu como projeto ainda incipiente e cheio de promessas, Mark Zuckerberg protagonizou a imagem abaixo.
O ano era 2016 e a tecnologia de VR Glasses (óculos de realidade virtual) ainda estava no início da sua história. Um auditório lotado de pessoas acompanhou a mais nova empreitada do CEO do Meta, mostrando as possibilidades que aquele ambiente virtual poderia oferecer no futuro. Quatro anos antes, o ainda Facebook comprou a Oculus Rift, empresa responsável por um dos modelos mais avançados de VR Glasses disponíveis no mercado. Tudo isso era só o começo do caminho para conquistar também a realidade virtual. Agora em 2023 e com muito dinheiro focado nas áreas "erradas", a Meta muda de prumo e visa as IAs.
Entretanto, sabemos que a Meta não está sozinha no clube de apostas erradas e grandes perdas de dinheiro. Seguem alguns casos famosos de “hypes” que não vingaram:
Quando os NFts surgiram como tecnologia e solução para diversos tipos de aplicação, em 2021, o mundo da tecnologia se rendeu. Durante muito pouco tempo, os "non-fungible tokens", ou token não fungível (fungível é o termo que se aplica a bens que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, como dinheiro) foram vistos como a próximo grande coisa da internet, permitindo um ar de renovação para produtores de conteúdo, empresas multimídia, entusiastas e espertos.
Mas assim como os NFTs ascenderam em expectativa e promessas, logo também caíram em "desgraça" (ou pelo menos em prejuízo). O caso mais clássico de que havia alguma coisa errada com o hype dos NFTs aconteceu quando o fundador do Twitter, Jack Dorsey, vendeu um NFT do primeiro tweet publicado na rede por US$ 2,9 milhões em 2021. Pouco mais de um ano depois, em abril de 2022, o comprador não conseguiu mais do que US$ 9,9 mil como oferta (0,34% do valor pago). Para se ter uma ideia, o valor médio de venda de um NFT em maio de 2022 caiu cerca de 92%, indo de US$ 3.894,00 para US$ 293,00.
Lançado como um substituto do Google Buzz, que já era um substituto do Google Wave (embora ferramentas muito diferentes entre si), o Google + foi uma das tentativas (a derradeira?) da gigante das buscas entrar no mundo das mídias sociais e fazer frente a outros competidores. A plataforma, no entanto, com poucos acessos, tração e audiência (sem contar a escassez de recursos e novidades), acabou nunca engajando, encantando ou mostrando ao que tinha vindo. Assim, o projeto acabou descontinuado em 2019.
Mas nem todas as falhas são para sempre
Dois exemplos de ferramentas que de cara não pareciam que dariam certo nunca, mas conseguiram, são o Bluetooth e o QR code. O primeiro foi criado como uma solução para transmissão de dados sem a necessidade de cabos, mas que em suas primeiras versões era extremamente frustrante (só quem teve um celular Sony Ericsson ali por 2006 sabe do que estou falando). Muito tempo depois, a tecnologia evoluiu, suas aplicações se expandiram e hoje é ferramenta usada em diversos contextos, com uma taxa de sucesso impressionante.
Já o QR code - um dos terrores do período de pandemia da Covid 19, sendo usado em cardápios e lives no mundo inteiro - começou como uma tecnologia de encurtamento de links e oferecimento de conteúdo que era difícil de ser compreendido, usado e que não vencia a objetividade de um mundo ainda muito ligado a computadores de mesa e notebooks. À medida que a hegemonia dos smartphones foi crescendo, a presença dos QR codes também foi se tornando mais ostensiva, sendo usado para meios de pagamento, acesso a conteúdos, check in em ambientes de trabalho, como cartão de visita e diversas outras possibilidades. (Ah, e ao menos aqui em São Paulo, os cardápios físicos estão voltando, então há esperanças).
O que aprendemos com essas reviravoltas?
Uma das lições é um tanto óbvia, né: nada de depositar todas as suas fichas em uma aposta só. Novas tecnologias são atraentes, cheias de promessas, muitos interessados e entendidos, mas com pouquíssima informação relevante de longo prazo. Sendo assim, essa última parte torna-se um importante indicativo de que a parcimônia vai bem.
Nenhum hype se cria sozinho e, se uma mentira contada mil vezes vira verdade, uma inovação tecnológica precisa de muito menos para ser a nova revolução de sucesso. Então: cuidado.
Para empresas menores ou com áreas de atuação distantes do mundo da tecnologia mais profundo, adotar essas inovações pode ser mais distante e dificultoso. O cuidado aqui é não se expor ao hype apenas pelo hype. Como é de entendimento geral, estratégia não é algo que muda com o sabor dos ventos, mas algo pensado e planejado com cuidado.
Outra lição possível é dar tempo ao tempo. Você não precisa ser como a Kodak e duvidar ou subestimar o crescimento do mercado de fotografia digital, ok? Ok. Mas pode acompanhar as novidades tecnológicas de uma distância segura, aprendendo à medida que ela é colocada à prova pelo mercado e sendo aplicada em cenários cada vez mais diversos.
Assim, além de não perder de vista as oportunidades de usar a tecnologia a seu favor (ou até mesmo criá-la), você também pode ir preparando esse movimento aos poucos, capacitando sua empresa e seu time para isso e investindo com cautela e baseado em dados e retorno.