Antes de se tornar o principal aplicativo de mensagens no mundo, utilizado mensalmente por 2 bilhões de pessoas, o WhatsApp recebeu investimentos para aumentar a base de usuários e crescer como empresa. De olho na oportunidade, em 2011 a Sequoia Capital, um dos maiores fundos de venture capital (VC) do mundo, iniciou uma rodada de aportes que culminou em um retorno impressionante. Quando o Facebook adquiriu o WhatsApp por US$ 22 bilhões, três anos depois, o fundo transformou os US$ 60 milhões investidos em US$ 3 bilhões.
Os frutos colhidos na venda mais bem-sucedida da história de uma empresa privada apoiada por um fundo de venture capital saltam aos olhos, mas essa não é a realidade da maioria. Na prática, o que se vê é a dificuldade de muitas empresas jovens de conciliar uma expansão saudável com os interesses arrojados dos investidores. Isso porque a injeção de capital em companhias em estágios iniciais de crescimento vem normalmente acompanhada da pressão por ganhos rápidos e escaláveis, compatíveis com o risco que se corre, mas que podem comprometer a sobrevivência do negócio a longo prazo.
O tempo que um fundo de venture capital permanece investido nas empresas é elástico e varia de 2 anos a 10 anos. Além do capital, os VCs oferecem conhecimento especializado para ajudar a escalar o negócio. Geralmente, o investimento é recuperado a partir de compra e venda de ações e da abertura do capital na bolsa de valores.
Feitos os aportes, os VCs acompanham de perto a jornada de crescimento e os indicadores de rentabilidade, a qualidade da gestão e aspectos como governança corporativa e compliance. Além disso, monitoram o cenário macroeconômico para a identificação de competidores ou de eventuais impactos regulatórios.
Como chegamos até aqui
O mercado brasileiro viu um “boom” de startups nos últimos 10 anos, impulsionado pelo apetite dos fundos de venture capital. Na esteira desses investimentos surgiram vários unicórnios (empresas avaliadas acima de US$ 1 bilhão). O recorde de captações veio em 2021: startups e empresas em estágio inicial captaram US$ 9,4 bilhões, com destaque para as fintechs, as “queridinhas” desse universo. O valor total que saiu dos bolsos dos VCs foi 2,5 vezes maior do que o registrado em 2020, quando, em meio aos efeitos da pandemia de covid-19, o setor também se mostrou forte.
Otimismo à parte, é preciso reconhecer as barreiras inerentes aos investimentos em startups no Brasil. Segundo uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), ao menos 25% delas morrem nos primeiros 2 anos; cerca de 50% fecham as portas em até 4 anos; e 75% delas encerram as atividades em até 13 anos. Entre as principais causas para a mortalidade desses negócios estão a leitura incorreta do mercado, quando o produto ou o serviço não atende às necessidades mercadológicas reais; a falta de competitividade do modelo de negócios; a falta de equipe suficientemente qualificada para endereçar os desafios de mercado; e a falta de acesso a capital, que, quando sanada por meio dos fundos de venture capital, precisa ser administrada de forma adequada.
O cenário daqui para frente
Se os anos passados foram marcados pela euforia dos investimentos em startups, em 2022 o clima é de desconfiança. Em meio às sucessivas altas das taxas de juros, à inflação galopante e às previsões de recessão mundial, o discurso mudou. Grandes players do mercado de venture capital revisaram expectativas e “fecharam a torneira”. As correções já começaram. Em maio, segundo a Exame, o investimento direcionado às pequenas companhias brasileiras de tecnologia despencou 60% na comparação com o mesmo período de 2021.
A percepção no mercado é de que os fundos de venture capital estão mais cautelosos na seleção dos investimentos. A agilidade para “bater o martelo” em relação às empresas aptas a receber os aportes — processo que podia ser resolvido em apenas algumas horas de conversa — tende a dar lugar a decisões mais elaboradas e conscientes. Espera-se, a partir de agora, mais rigor nas avaliações das premissas de crescimento e do impacto do negócio, e isso pode ser decisivo para o futuro das startups.
E as companhias já sentiram o baque das mudanças de ventos. As adversidades macroeconômicas motivaram uma onda de demissões em massa em vários países. De acordo com uma análise realizada pela TrueUp, uma plataforma especializada em oportunidades de trabalho, as gigantes da tecnologia já dispensaram aproximadamente 40 mil profissionais nos primeiros quatro meses de 2023. Essas demissões em larga escala foram identificadas levando em consideração o histórico das principais empresas do setor, como Microsoft, Amazon, Google, Apple e Meta. Já no Brasil, só em janeiro e fevereiro deste ano, mais de 50 empresas anunciaram demissões em massa. Entre elas estão Nubank, C6 Bank, Loggi e Enjoei.
Com a menor disposição dos fundos de venture capital para alocações arriscadas, empresas que dependem de capital externo têm buscado novas formas de financiamento, como o equity crowdfunding. Trata-se de uma espécie de “vaquinha virtual” na qual investidores — sejam pessoas físicas, sejam pessoas jurídicas — podem fazer aportes em estágios iniciais de maneira coletiva. Outras modalidades incluem os instrumentos de dívidas. O venture debt, por exemplo, oferece a possibilidade de instituições financiarem o negócio como credoras, e não como sócias; já os Fundos de Direitos Creditórios (FIDCs), que envolvem créditos a receber, despontam no radar das empresas.
Os próximos meses serão definitivos para o entendimento dos rumos econômicos e, consequentemente, para a definição do humor nos mercados. Por ora, a mensagem que fica é de cautela em relação aos próximos passos e da necessidade de uma administração consciente. Uma das formas de se fazer isso é traçar estratégias inteligentes de crescimento sem comprometer o fluxo de caixa e a saúde financeira da operação. Por meio da receita compartilhada, a Divibank oferece financiamentos de campanhas de marketing digital e de estoque de forma justa e com pagamento flexível e proporcional ao crescimento dos negócios. Tudo isso com a agilidade e a eficiência que os mercados dinâmicos exigem.