Diante da alta de juros e do receio de recessão global, a palavra de ordem nas empresas em fase de crescimento é cautela. A queda no volume de aportes fez soar o alerta para um cenário com pouca liquidez e a busca por estratégias eficientes de otimização de recursos.
O diretor de tecnologia (CTO) da Divibank, Hugo Carvalho, destaca a importância da adoção de tecnologias para fazer mais com menos. Ele recomenda o uso de softwares tanto para eliminar tarefas repetitivas quanto para aprimorar o modelo de negócios e expandir a operação.
"Na minha visão, a maior vantagem da tecnologia é evitar que pessoas importantes nas empresas gastem tempo com funções repetitivas, burocráticas, que drenam a produtividade dos funcionários e não geram valor para a companhia", observa.
Tecnologias para eficiência operacional
Na busca por mais eficiência operacional, o especialista chama a atenção para o modelo QA (Quality Assurance), que analisa códigos em busca de falhas que podem atrapalhar o usuário final. Há também ferramentas de Software as a Service (SaaS) que permitem montar um fluxo de teste, apenas soltando e arrastando blocos. “Embora não seja não tão bom quanto um trabalho humano, talvez atenda a 70% do que uma pessoa poderia fazer, só que com custo muito mais baixo”, explica o CTO.
Outra aplicação da tecnologia citada por ele para eliminar tarefas repetitivas é voltada ao trabalho administrativo, que pode ser substituído por uma ferramenta de Robotic Process Automation (RPA) na automatização de demandas que levariam um dia inteiro, como o fechamento da folha de pagamento. “O interessante disso é liberar as pessoas que fariam esse trabalho para realizar tarefas mais importantes”, defende o executivo.
Na área de Marketing Digital, Carvalho cita algumas tecnologias gratuitas que antes eram complexas e hoje estão amplamente disponíveis, como Google Analytics e ferramentas de otimização de mecanismos de busca (SEO).
"Quão complexo era, 15 anos atrás, entender a jornada do usuário no seu site? Além de a resposta para essa pergunta ser mais simples hoje, os empreendedores têm a possibilidade de escolher desenvolver soluções dentro de casa ou contratar prontas", compara.
Outro exemplo são recomendações de produtos adequados a partir de estratégias de engenharia de dados e de ciência de dados. Antes, somente as grandes empresas de tecnologias podiam fazer isso; agora, elas oferecem essas opções como serviço, via interface de programação de aplicações (API).
“Trabalhando com a Amazon, inclusive, um pequeno e-commerce pode passar a ter recomendações parecidas com as do e-commerce da maior empresa de varejo do mundo. Em termos de infraestrutura, atualmente, qualquer pessoa pode subir um servidor na nuvem dessas empresas sem precisar fazer grandes investimentos”, pontua.
Estratégia de dados deve ser o principal
Segundo Hugo Carvalho, é importante cuidar de dados de forma central porque muitas empresas ainda tomam decisões com base na intuição. “Essas companhias deveriam investir para que os dados que refletem as decisões de negócios estejam acessíveis de forma democrática para todo mundo dentro da organização. A falta de sintonia nesse processo gera lacunas sensíveis.”, explica Hugo.
O executivo exemplifica que quando isso acontece, um time como o de Finanças, precisa pedir a um analista ou profissional de Tecnologia para responder a uma pergunta que poderia ser facilmente encontrada se todos tivessem acesso aos dados em uma plataforma. O amplo acesso a informações relevantes empodera os colaboradores e dá autonomia para que a tecnologia não vire um gargalo. Algumas ferramentas para facilitar a visualização dos dados são PowerBI, Tableau e metabasic.
Tecnologia e segurança para escalar o negócio
"O problema de uma empresa que cresce e não investe em tecnologia é chegar a um ponto em que a plataforma pode enfrentar problemas durante picos de acesso e não conseguir ganhar escala", explica Carvalho.
Outra área citada com prioridade pelo especialista é a de cibersegurança. Ele diz que a tecnologia pode apoiar as organizações a partir de soluções de gestão de senhas e testes de phishing em treinamentos para evitar vazamentos. Afinal, quanto mais a empresa cresce, mais "apetitosa" ela é para um atacante.
Leia abaixo a entrevista completa:
Qual é a sua leitura sobre a importância do uso da tecnologia para otimizar recursos nas empresas?
Hugo Carvalho: Na minha visão, a maior vantagem da tecnologia é evitar que pessoas importantes nas empresas gastem tempo com funções repetitivas, burocráticas, que drenam a produtividade dos funcionários e não geram valor para a companhia.
Por exemplo, existe um modelo chamado QA (Quality Assurance), que analisa códigos em busca de falhas que podem atrapalhar o usuário final. Há também ferramentas de Software as a Service (SaaS) que permitem montar um fluxo de teste, apenas soltando e arrastando blocos, que, embora não seja não tão bom quanto um trabalho humano, talvez atenda a 70% do que uma pessoa poderia fazer, só que com custo muito mais baixo.
Outro exemplo do uso da tecnologia para tarefas repetitivas é no trabalho administrativo, que pode ser substituído por uma ferramenta de Robotic Process Automation (RPA) na automatização de demandas que levariam um dia inteiro, como o fechamento da folha de pagamento. O interessante disso é liberar as pessoas que fariam esse trabalho para realizar tarefas mais importantes.
Que tecnologias antes comuns apenas entre big techs estão hoje a serviço de pequenos empresários?
Hugo Carvalho: Na área de marketing digital, algumas tecnologias gratuitas que antes eram complexas estão amplamente disponíveis, como Google Analytics e ferramentas de otimização de mecanismos de busca (SEO). Elas são importantes para permitir que você entenda bem o usuário e possa tomar decisões.
Quão complexo era, 15 anos atrás, entender a jornada do usuário no seu site? Além de a resposta para essa pergunta ser mais simples hoje, os empreendedores têm a possibilidade de escolher desenvolver soluções dentro de casa ou contratar prontas.
Em outras palavras, até quem não é da área de tecnologia consegue analisar o funil de usuários que percorreram um caminho até a compra do produto. Então, dá para responder rapidamente às dores do negócio.
Outro exemplo são recomendações de produtos adequados a partir de estratégias de engenharia de dados e de ciência de dados. Antes, somente as grandes empresas de tecnologias podiam fazer isso; agora, elas oferecem essas opções como serviço, via interface de programação de aplicações (API).
Trabalhando com a Amazon, inclusive, um pequeno e-commerce pode passar a ter recomendações parecidas com as do e-commerce da maior empresa de varejo do mundo. Em termos de infraestrutura, qualquer um pode rapidamente subir um servidor na nuvem dessas empresas sem precisar fazer grandes investimentos.
Atualmente, é muito mais fácil para uma empresa que não tem dinheiro começar pequena e crescer junto ao negócio, porque ela consegue consumir como serviço algo que antes dependeria de um grande investimento.
Quais tecnologias não podem faltar na estratégia de empresas em fase de crescimento?
Hugo Carvalho: É importante cuidar de dados de forma central porque muitas empresas ainda tomam decisões com base na intuição. Essas companhias precisam investir para que os dados que refletem as decisões de negócios estejam acessíveis de forma democrática para todo mundo dentro da organização.
Senão, por exemplo, o time de Finanças precisa chamar um analista ou profissional de Tecnologia para responder a uma pergunta que poderia ser encontrada se todos tivessem acesso aos dados em uma plataforma. Isso empodera os colaboradores e dá autonomia para que a tecnologia não vire um gargalo. Algumas ferramentas para facilitar a visualização dos dados são PowerBI, Tableau e metabasic.
Outra área que eu acho interessante, não exatamente como otimização de processos, mas como preocupação da liderança, é a de segurança. A quantidade de ataques aumenta fortemente e só tende a ficar pior. A tecnologia pode ajudar com soluções de gestão de senhas e testes de phishing para treinamentos, por exemplo. Afinal, quanto mais a empresa cresce, mais "apetitosa" ela é para um atacante.
O processo de transformação digital deve priorizar determinadas áreas na empresa ou ser horizontal?
Hugo Carvalho: Transformação digital é você criar a cultura de que a tecnologia está enraizada na organização e deve se refletir em automação e segurança no médio prazo, além de saber que isso se reverterá em mais performance e capacidade de negócios no longo prazo.
O problema de uma empresa que cresce e não investe em tecnologia é chegar a um ponto em que a plataforma pode enfrentar problemas durante picos de acesso e não conseguir ganhar escala.
Outro benefício é conseguir crescer o faturamento sem precisar aumentar o número de funcionários na mesma proporção. Com a ajuda da RPA, uma pessoa que cuida de 10 clientes de forma manual pode atender a 100 clientes sem perder a qualidade do atendimento individualizado se delegar tarefas para a tecnologia. Isso significa que, ao investir em tecnologia, as empresas conseguem crescer mais, aumentar as margens de lucro e manter os times relativamente enxutos.